Em
meio à beleza e ao espanto, perdi-me nas ruas de Istambul. Aquela Istambul, que
elevou meu espírito e libertou minha alma. Senti a chuva fina levemente
umedecer meu corpo vazio e levar-me para qualquer lugar. O refresco momentâneo
e passageiro da água confundia-se com o calor que irradiava de minha pele
devido aos dias quentes do Mediterrâneo. Distraidamente lia um letreiro ou
outro, ouvia uma música qualquer. Aquela cidade, que outrora me fascinava e
cativava em seus mais minuciosos detalhes, agora assumia o caráter de qualquer
outra metrópole cinzenta e banal. Eu já não estava mais ali –na verdade, nem
sabia onde estava.
Repentinas
eram todas as mudanças de Istambul. Na verdade, não sei se foi Istambul que
mudou, ou fui eu quem mudou Istambul. A cada piscar de olhos, a cada soar das
cordas de um músico de rua, a cada gota d’água, uma mudança. A cada sorriso, a
cada olhar, a cada palavra indecifrável, um momento. Efêmero.
Não
sei o que fiz em seguida, mas isso pouco importa. O vento frio do inverno
açoitava-me os braços e carregava-me inconsciente para qualquer sarjeta mais
próxima, onde pudesse descansar meu corpo débil. O verão tinha se dissolvido em
meio à atmosfera que a cidade assumira repentinamente.
Porém
minha alma lá permanece, esquecida em alguma esquina de Istambul, entre os
jardins floridos da primavera e os galhos secos do outono. Paradoxal, simples
assim. Paradoxal como corpo e alma. Paradoxal como Istambul.
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