quinta-feira, 7 de junho de 2012

Noites solitárias em Istambul


                Em meio à beleza e ao espanto, perdi-me nas ruas de Istambul. Aquela Istambul, que elevou meu espírito e libertou minha alma. Senti a chuva fina levemente umedecer meu corpo vazio e levar-me para qualquer lugar. O refresco momentâneo e passageiro da água confundia-se com o calor que irradiava de minha pele devido aos dias quentes do Mediterrâneo. Distraidamente lia um letreiro ou outro, ouvia uma música qualquer. Aquela cidade, que outrora me fascinava e cativava em seus mais minuciosos detalhes, agora assumia o caráter de qualquer outra metrópole cinzenta e banal. Eu já não estava mais ali –na verdade, nem sabia onde estava.
                Repentinas eram todas as mudanças de Istambul. Na verdade, não sei se foi Istambul que mudou, ou fui eu quem mudou Istambul. A cada piscar de olhos, a cada soar das cordas de um músico de rua, a cada gota d’água, uma mudança. A cada sorriso, a cada olhar, a cada palavra indecifrável, um momento. Efêmero.
                Não sei o que fiz em seguida, mas isso pouco importa. O vento frio do inverno açoitava-me os braços e carregava-me inconsciente para qualquer sarjeta mais próxima, onde pudesse descansar meu corpo débil. O verão tinha se dissolvido em meio à atmosfera que a cidade assumira repentinamente.
                Porém minha alma lá permanece, esquecida em alguma esquina de Istambul, entre os jardins floridos da primavera e os galhos secos do outono. Paradoxal, simples assim. Paradoxal como corpo e alma. Paradoxal como Istambul.

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