quarta-feira, 19 de junho de 2013

Confissões de uma pseudo-filósofa do século XXI




Oh! Quem me dera viver na Grécia Antiga, onde os filósofos eram valorizados e a ignorância era o principal mal a ser combatido. Onde o conhecimento era glória e a filosofia, o maior de todos os saberes. 
Que honra seria ser discípula de Sócrates ou Platão, ter aulas no Liceu, e talvez até morrer ao me recusar a pisar em um feijão pelo qual tenho adoração. Quem sabe até propor um sistema econômico-social que revolucionaria não só a minha época, mas que seria estudado por intelectuais futuros e, quem sabe, serviria de molde para sociedades alternativas experimentais. 
Do contrário, vivo em um tempo em que, para os olhos da sociedade, os filósofos não passam de vagabundos e as universidades de Filosofia se esvaziam mais a cada dia. Vivo em uma época em que o saber teórico de nada vale, se não pode ser aplicado para auxiliar a ordem e o progresso. 
Ora, sendo eu nada mais que uma mera pseudo-filósofa (não posso igualar-me a Platão ou Sócrates, afinal), qual seria minha contribuição para as engrenagens do sistema capitalista? Que consumidora de segunda categoria seria eu se não pudesse ganhar um salário digno vendendo minha alma ao banqueiro e comprar todos os bens que eles mesmos me empurram goela abaixo? Qual seria a real utilidade da Filosofia no século XXI se não me proporciona respaldo financeiro?
Não sei quem foi que disse que tudo deve ter uma utilidade prática, nem quem determinou que a dignidade de uma pessoa deveria ser medida de acordo com os bens que ela possui. Todavia sei que enquanto a Filosofia abrir espaço para a reflexão , incomodar e propor uma alternativa para as injustiças da atualidade, então será ainda o mais nobre de todos os saberes. 

Dias de misantropia ao contrário.

     Hoje acordei com a minha alma de filósofa inquieta e perturbada. Tal fato me levou, voluntária ou involuntariamente, a trocar ideias com pessoas diversas, a conhecer vidas diversas e a admirar a existência humana em suas mais variadas formas. 
     No diálogo com estas pessoas, vi muitas das minhas convicções serem colocadas contra a parede, e muitas delas caíram por terra. Simples assim. Tantas outras vezes deparei-me com situações que fizeram meus ideais desmoronarem em ruínas... E não há nada de errado com isso. O bonito do ser humano é a sua efemeridade, sua capacidade de mutação, de refutar antigas convicções e acatar novas quiçá completamente opostas. Mudar significa estar vivo, estar exposto a novas ideias e novos pensamentos. Mudar significa não estar estagnado, mas sim estar pensando e questionando. 
     Certa vez disseram-me algo como "penso, logo existo", e hoje vejo com clareza que existir é, de fato, pensar. Posso não ser René Descartes, no entanto sei o quão valiosa é a arte de pensar e refutar, de construir e desconstruir, de existir. 
     Cada existência é única, cada vida é valiosa. Cada indivíduo carrega dentro de si um mundo todo, cheio de contradições e ideais frágeis, prontos para serem quebrados e darem lugar a outros igualmente frágeis. E essa é a essência de ser humano, de estar vivo.