segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A música não morreu em 2012


Antes de começar, um adendo: este texto está repleto de hiperlinks, então sempre que algo estiver em negrito como isso, coloquei alguma informação extra especial.
Ano Novo é uma data de passagem. E eu sempre me intriguei com passagens e transições, até por não lidar muito bem com a maioria delas e morrer de medo da efemeridade das coisas. Vi muita gente escrevendo aquelas pieguices de todo fim de ano em seus blogs ou em suas contas do Facebook, então decidi escrever algo aqui também para não passar em branco. Mas como repudio qualquer tipo de clichê e sentimentalismo forçado ou falso, decidi nem me arriscar. Vou, sim, fazer uma retrospectiva do meu ano. Mas uma retrospectiva musical.
Apesar de o nome desse blog ser When The Music Dies (aliás, fazendo referência a uma música lindíssima de uma intérprete azeri maravilhosa), a música não morreu em 2012 para mim; muito pelo contrário. Descobri artistas maravilhosos e ouvi álbuns que me agradaram muito daqueles que já conhecia.
Começando, claro, pelo Eurovision Song Contest, minha maior obsessão. Foi o ano das baladas, o que me deixou bem satisfeita. Apesar de eu estar esperando um nível maior das canções, me apaixonei de verdade por algumas e passei a acompanhar alguns artistas em suas carreiras fora do Eurovision.
            A música que mais me fascinou na competição este ano foi, sem dúvida alguma, Nije Ljubav Stvar, do veterano sérvio Željko Joksimović. Željko já era meu conhecido de longa data, por ter se apresentado no Eurovision 2004, por ter escrito a música sérvia de 2008 e por ter feito uma versão étnica de uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos. É um dos músicos mais premiados e talentosos dos Bálcãs, e sua entrada para o Eurovision 2012 não deixou a desejar em aspecto algum. 
            Outra entrada que me cativou, em um estilo bem diferente da anterior, foi Love Me Back, da delicinha turca do pedaço de mal caminho do iniciante Can Bonomo. Sempre acabo gostando das entradas da Turquia, um pouco por nacionalismo e um pouco por gosto pessoal, mesmo. E com Can não foi diferente. Conheci sua carreira mais de perto após o Eurovision e descobri um jovem músico muito lindo talentoso e promissor. 
            E como falar de Eurovision 2012 sem falar da favoritíssima desde os primeiros instantes do concurso, Loreen? Para ser sincera, não fui cativada por Euphoria quando ouvi pela primeira vez, ao contrário do que aconteceu com a imensa maioria da comunidade eurovisiva. Até a achava um pouco superestimada. Mas, com o tempo, fui pegando gosto pela música e pela intérprete e seu cabelo perfeito e invejável, até conseguir aceitar sua vitória disparada. Me pego gritando “EUPHOOOOOOOORIAAAAA!” até hoje. Inclusive, o título do blog (“An everlasting piece of art”) vem do refrão de Euphoria. 
            Tomei tanto gosto pela sueca que parei para ouvir seu álbum de estreia, Heal. Fui surpreendida positivamente. Não se trata do meu estilo de música favorito, mas as letras certamente me envolveram. Sem falar da voz de Loreen, impecável até mesmo ao vivo. O destaque vai para a versão acústica do seu hit My Heart Is Refusing Me.

            Ainda na atmosfera eurovisiva, o maNga, uma das minhas bandas preferidas que representou a Turquia no concurso em 2010,  lançou um álbum acústico que é simplesmente um presente dos deuses. A coletânea traz versões acústicas dos antigos e novos sucessos da banda, além da participação especial da cantora Yıldız Tilbe em uma das faixas que se tornou uma das minhas preferidas do álbum. Além disso, destaque para a versão acústica daquela que talvez seja a minha favorita da banda de todos os tempos, Cevapsız Sorular. 
            E chega de música europeia por ora. Partimos agora para o álbum que foi, literalmente, a trilha sonora da minha vida nos dois últimos meses de 2012, Red, da cantora country (country?) Taylor Swift. Sim, me julguem, eu gosto de Taylor Swift, e muito! A princípio, fiquei um tanto quanto relutante com o novo álbum, devido às primeiras músicas que foram lançadas e à forte influência da música pop e até do dubstep nelas. Mas depois que o álbum foi lançado, me entreguei completamente aos encantos da loira. Algumas músicas refletiam exatamente o momento que eu vivia, como All Too Well e I Almost Do, e isso acabou me atraindo ainda mais pelo Red. Atualmente, ainda não enjoei de nenhuma música, mas ainda reluto em ouvir as faixas mais pop do álbum, como a chatinha Starlight e a sem-sal 22.
          2012 certamente foi o ano da Lana Del Rey. Conheci a cantora através de um amigo em dezembro de 2011, quando ela possuía apenas algumas demos e dois singles lançados. Ao decorrer do ano, a cantora dos lábios polêmicos lançou um álbum maravilhoso, Born To Die, e sua versão especial, Paradise. Ambos tornaram-se espécies de hinos para mim e meus amigos, e toda vez que ouço alguma faixa como Video Games ou Radio, lembro de todos nós deitados no chão da minha sala ouvindo Lana e cantando alto como se não houvesse amanhã. Ah, e é claro, antes que eu me esqueça: my pussy tastes like Tubaína! 
            Voltando ao começo de 2012, outra das minhas bandas favoritas me presenteou com um EP novo. The Pretty Reckless lançou o pretensioso Hit Me Like a Man, que mostrou um lado mais agressivo da banda que me agradou muito. Era exatamente o que eu queria ouvir naquele momento. Os vocais do meu ícone referência de estilo Taylor Momsen foram trabalhados de forma mais incisiva e tornaram o EP um dos mais ouvidos no meu ano de 2012. Além disso, super destaque para os show da The Pretty Reckless no Brasil! Momsen é ainda mais linda ao vivo e o show é empolgante do começo ao fim. Aliás, a foto a seguir foi tirada por mim!

            Fora as novidades, continuei ouvindo o que já ouvia antes. O álbum Chico, do meu cantor favorito de todos os tempos, foi lançado no final de 2011 embalou meu ano seguinte por inteiro. Apesar de o álbum nem se comparar aos célebres Construção e Meus Caros Amigos, lançados anteriormente por Chico, o novo cd traz músicas românticas e ressalta a afrobrasilidade com a belíssima faixa Sinhá. 
            Além disso, outro artista que fui desbravando ainda mais neste ano foi o meu futuro marido músico israelense Idan Raichel, e seu maravilhoso projeto homônimo. Idan tem 35 anos com carinha de 25 e eu sem medo posso afirmar que ele é um dos músicos mais talentosos do mundo todo. Seu projeto mistura ritmos latinoamericanos, africanos e do Oriente Médio em faixas belíssimas que transmitem uma paz de espírito fora do comum. Mi’maama’kim é uma das únicas músicas capazes de me acalmar em momentos de crise, e ouço Chalomot Shel Acherim desde seu lançamento em 2007 sem parar e sem enjoar.

            Vou parar por aqui. Este post já ficou longe demais e duvido que alguém tenha lido até o final e clicado em todos os 40+ hiperlinks. Ainda poderia citar o novo álbum da isralense Shiri Maimon, a banda cubana que conheci melhor esse ano Orishas, ou as fofíssimas eurovisivas Joan Franka e Soluna Samay que deixei de detalhar acima. Para eles, criei a seções abaixo, "Volume +" e "Volume -". Mas creio que consegui transmitir um pouco do que foi meu 2012 musical para vocês. Espero ter adicionado pelo menos uma faixa nova ao player de música de vocês!

VOLUME + (mais alguns artistas que conheci ou passei a ouvir mais em 2012): Joy Division, The Smiths, Los Aldeanos, The Black Keys, Mumford & Sons, Pink Floyd.
VOLUME - (alguns que deixaram meu player em 2012, ou por pura negligência ou por falta de afinidade): Ashlee Simpson, Carrie Underwood, Harel Skaat, Suicide Silence, Paramore.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O vizinho da camisa vermelha


Quem é aquele? Vivemos lado a lado e nada sabemos sobre a vida um do outro. Duas vidas no mesmo lugar. Tão distantes, tão distintas. Ou tão iguais; nunca se sabe. E nunca se saberá, a não ser que um de nós dois saia da bolha que nos abriga e decida sussurrar um tímido “oi”.
            O vizinho que não existe, coexiste. Coexiste em uma camisa vermelha e uma porta de madeira escura. Apenas mais uma das sete bilhões de pessoas do mundo que não conheço, mas que vejo todo dia e mora a dez metros de distância de mim. Um conhecido desconhecido.
            Entre um cigarro e um devaneio, trocamos olhares da sacada de nossos apartamentos. Ele na dele, eu na minha. Ele com seu Marlboro, eu com meus pensamentos. Ele amassando as cinzas, eu contando as estrelas. Um olhar. Desvio. Volto a contar estrelas. Sinto seu olhar em mim. Lembro da camisa vermelha, da porta, da madeira escura.
            E esqueço. Quem é ele, afinal? Ninguém. Nunca esteve nem nunca estará em minha vida. Nada mais do que uma troca de olhares diária, que já virou quase que rotina. Nada mais do que o vizinho da camisa vermelha. 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O Ativista

Perguntavam por que ele passava tanto tempo na rua. Mais especificamente, no centro da cidade, panfletando em algum canto ou divulgando alguma causa popular. Era tachado de líder de guerrilha, maoísta, revolucionário, “ativistinha vagabundo”. Mas sinceramente, ele não ligava. Gostava, até. Vangloriava-se da fama de esquerdista excluído do sistema, apesar de não simpatizar com Marx ou Bakunin e nem mesmo acreditar em uma mudança de sistema.
Em mãos, apenas o velho megafone companheiro de marchas e a mochila surrada nas costas. Dessa, ele não largava nunca. Mesmo que fosse para carregar apenas uma simples agenda de capa preta, outra fiel escudeira. E essa era apenas uma das inúmeras manias que ele tinha, capazes de irritar qualquer um eu convivesse com ele.
            Sua voz era sua única arma. Nada de metralhadoras e fuzis nas mãos de guerrilheiros loucos e inconsequentes, como seria possível imaginar. Na verdade, era exatamente isso que as pessoas pensavam quando o ouviam falar da revolução e da luta popular. Mal sabiam elas que ele fazia revolução com um megafone e uma oratória fora do comum.
            Seu grande diferencial era acreditar no movimento. “As coisas estão mudando, as pessoas estão acordando”, jurava para mim, em uma quase súplica. Contentava-se com a presença de cinco, seis pessoas em debates promovidos por ele para discutir temas como a corrupção ou o novo Código Florestal. Eu sempre presente, como sua fiel escudeira. Afinal, todo Dom Quixote precisa de seu Sancho Pança.
            Tinha uma folha especial na pasta de indulgentes no escritório da Polícia Federal, resultado de algumas madrugadas em claro colando cartazes pela cidade, além de alguns bate-papos com políticos não tão moderados assim. Costumava dizer que se vivesse em tempos de ditadura, com certeza já estaria morto ou preso. Em tempos modernos, no entanto, conseguia manter uma relação estável com os policiais. Um cartaz ali, outro megafone depois das dez ali... nada que fosse manchar sua foto 3x4 de sangue.
            E quando ele pretendia arranjar um trabalho? Quando ingressaria em uma faculdade? Quando deixaria os movimentos sociais para buscar um projeto de vida mais sólido? “Enquanto respirar, vou lutar”, repetia. “Enquanto houver injustiça, não sairei das ruas”. E era assim, defendendo a liberdade dos fracos e oprimidos, que ele defendia sua própria liberdade. Era no coletivo revolucionário que ele encontrava seu eu. Ele era o movimento, e o movimento não existiria sem ele.

NOTA: O personagem deste texto é, na verdade, composto por múltiplos outros personagens. Muitas pessoas no Movimento são verdadeiras inspirações para mim, e fico feliz de conhecê-las e fazer parte do cotidiano delas. As frases, as situações e até mesmo os chavões da narrativa são reais, e estão contidas no interior de cada um dos ativistas que eu conheci na minha jornada pelas ruas com iniciativas populares. Cada uma delas é o Movimento, e sem a ajuda de cada um dos indivíduos maravilhosos que inspiraram essa história, ele não existiria.