Quem é aquele?
Vivemos lado a lado e nada sabemos sobre a vida um do outro. Duas vidas no
mesmo lugar. Tão distantes, tão distintas. Ou tão iguais; nunca se sabe. E
nunca se saberá, a não ser que um de nós dois saia da bolha que nos abriga e
decida sussurrar um tímido “oi”.
O
vizinho que não existe, coexiste. Coexiste em uma camisa vermelha e uma porta
de madeira escura. Apenas mais uma das sete bilhões de pessoas do mundo que não
conheço, mas que vejo todo dia e mora a dez metros de distância de mim. Um
conhecido desconhecido.
Entre
um cigarro e um devaneio, trocamos olhares da sacada de nossos apartamentos.
Ele na dele, eu na minha. Ele com seu Marlboro, eu com meus pensamentos. Ele
amassando as cinzas, eu contando as estrelas. Um olhar. Desvio. Volto a contar
estrelas. Sinto seu olhar em
mim. Lembro da camisa vermelha, da porta, da madeira escura.
E
esqueço. Quem é ele, afinal? Ninguém. Nunca esteve nem nunca estará em minha
vida. Nada mais do que uma troca de olhares diária, que já virou quase que
rotina. Nada mais do que o vizinho da camisa vermelha.
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