segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A música não morreu em 2012


Antes de começar, um adendo: este texto está repleto de hiperlinks, então sempre que algo estiver em negrito como isso, coloquei alguma informação extra especial.
Ano Novo é uma data de passagem. E eu sempre me intriguei com passagens e transições, até por não lidar muito bem com a maioria delas e morrer de medo da efemeridade das coisas. Vi muita gente escrevendo aquelas pieguices de todo fim de ano em seus blogs ou em suas contas do Facebook, então decidi escrever algo aqui também para não passar em branco. Mas como repudio qualquer tipo de clichê e sentimentalismo forçado ou falso, decidi nem me arriscar. Vou, sim, fazer uma retrospectiva do meu ano. Mas uma retrospectiva musical.
Apesar de o nome desse blog ser When The Music Dies (aliás, fazendo referência a uma música lindíssima de uma intérprete azeri maravilhosa), a música não morreu em 2012 para mim; muito pelo contrário. Descobri artistas maravilhosos e ouvi álbuns que me agradaram muito daqueles que já conhecia.
Começando, claro, pelo Eurovision Song Contest, minha maior obsessão. Foi o ano das baladas, o que me deixou bem satisfeita. Apesar de eu estar esperando um nível maior das canções, me apaixonei de verdade por algumas e passei a acompanhar alguns artistas em suas carreiras fora do Eurovision.
            A música que mais me fascinou na competição este ano foi, sem dúvida alguma, Nije Ljubav Stvar, do veterano sérvio Željko Joksimović. Željko já era meu conhecido de longa data, por ter se apresentado no Eurovision 2004, por ter escrito a música sérvia de 2008 e por ter feito uma versão étnica de uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos. É um dos músicos mais premiados e talentosos dos Bálcãs, e sua entrada para o Eurovision 2012 não deixou a desejar em aspecto algum. 
            Outra entrada que me cativou, em um estilo bem diferente da anterior, foi Love Me Back, da delicinha turca do pedaço de mal caminho do iniciante Can Bonomo. Sempre acabo gostando das entradas da Turquia, um pouco por nacionalismo e um pouco por gosto pessoal, mesmo. E com Can não foi diferente. Conheci sua carreira mais de perto após o Eurovision e descobri um jovem músico muito lindo talentoso e promissor. 
            E como falar de Eurovision 2012 sem falar da favoritíssima desde os primeiros instantes do concurso, Loreen? Para ser sincera, não fui cativada por Euphoria quando ouvi pela primeira vez, ao contrário do que aconteceu com a imensa maioria da comunidade eurovisiva. Até a achava um pouco superestimada. Mas, com o tempo, fui pegando gosto pela música e pela intérprete e seu cabelo perfeito e invejável, até conseguir aceitar sua vitória disparada. Me pego gritando “EUPHOOOOOOOORIAAAAA!” até hoje. Inclusive, o título do blog (“An everlasting piece of art”) vem do refrão de Euphoria. 
            Tomei tanto gosto pela sueca que parei para ouvir seu álbum de estreia, Heal. Fui surpreendida positivamente. Não se trata do meu estilo de música favorito, mas as letras certamente me envolveram. Sem falar da voz de Loreen, impecável até mesmo ao vivo. O destaque vai para a versão acústica do seu hit My Heart Is Refusing Me.

            Ainda na atmosfera eurovisiva, o maNga, uma das minhas bandas preferidas que representou a Turquia no concurso em 2010,  lançou um álbum acústico que é simplesmente um presente dos deuses. A coletânea traz versões acústicas dos antigos e novos sucessos da banda, além da participação especial da cantora Yıldız Tilbe em uma das faixas que se tornou uma das minhas preferidas do álbum. Além disso, destaque para a versão acústica daquela que talvez seja a minha favorita da banda de todos os tempos, Cevapsız Sorular. 
            E chega de música europeia por ora. Partimos agora para o álbum que foi, literalmente, a trilha sonora da minha vida nos dois últimos meses de 2012, Red, da cantora country (country?) Taylor Swift. Sim, me julguem, eu gosto de Taylor Swift, e muito! A princípio, fiquei um tanto quanto relutante com o novo álbum, devido às primeiras músicas que foram lançadas e à forte influência da música pop e até do dubstep nelas. Mas depois que o álbum foi lançado, me entreguei completamente aos encantos da loira. Algumas músicas refletiam exatamente o momento que eu vivia, como All Too Well e I Almost Do, e isso acabou me atraindo ainda mais pelo Red. Atualmente, ainda não enjoei de nenhuma música, mas ainda reluto em ouvir as faixas mais pop do álbum, como a chatinha Starlight e a sem-sal 22.
          2012 certamente foi o ano da Lana Del Rey. Conheci a cantora através de um amigo em dezembro de 2011, quando ela possuía apenas algumas demos e dois singles lançados. Ao decorrer do ano, a cantora dos lábios polêmicos lançou um álbum maravilhoso, Born To Die, e sua versão especial, Paradise. Ambos tornaram-se espécies de hinos para mim e meus amigos, e toda vez que ouço alguma faixa como Video Games ou Radio, lembro de todos nós deitados no chão da minha sala ouvindo Lana e cantando alto como se não houvesse amanhã. Ah, e é claro, antes que eu me esqueça: my pussy tastes like Tubaína! 
            Voltando ao começo de 2012, outra das minhas bandas favoritas me presenteou com um EP novo. The Pretty Reckless lançou o pretensioso Hit Me Like a Man, que mostrou um lado mais agressivo da banda que me agradou muito. Era exatamente o que eu queria ouvir naquele momento. Os vocais do meu ícone referência de estilo Taylor Momsen foram trabalhados de forma mais incisiva e tornaram o EP um dos mais ouvidos no meu ano de 2012. Além disso, super destaque para os show da The Pretty Reckless no Brasil! Momsen é ainda mais linda ao vivo e o show é empolgante do começo ao fim. Aliás, a foto a seguir foi tirada por mim!

            Fora as novidades, continuei ouvindo o que já ouvia antes. O álbum Chico, do meu cantor favorito de todos os tempos, foi lançado no final de 2011 embalou meu ano seguinte por inteiro. Apesar de o álbum nem se comparar aos célebres Construção e Meus Caros Amigos, lançados anteriormente por Chico, o novo cd traz músicas românticas e ressalta a afrobrasilidade com a belíssima faixa Sinhá. 
            Além disso, outro artista que fui desbravando ainda mais neste ano foi o meu futuro marido músico israelense Idan Raichel, e seu maravilhoso projeto homônimo. Idan tem 35 anos com carinha de 25 e eu sem medo posso afirmar que ele é um dos músicos mais talentosos do mundo todo. Seu projeto mistura ritmos latinoamericanos, africanos e do Oriente Médio em faixas belíssimas que transmitem uma paz de espírito fora do comum. Mi’maama’kim é uma das únicas músicas capazes de me acalmar em momentos de crise, e ouço Chalomot Shel Acherim desde seu lançamento em 2007 sem parar e sem enjoar.

            Vou parar por aqui. Este post já ficou longe demais e duvido que alguém tenha lido até o final e clicado em todos os 40+ hiperlinks. Ainda poderia citar o novo álbum da isralense Shiri Maimon, a banda cubana que conheci melhor esse ano Orishas, ou as fofíssimas eurovisivas Joan Franka e Soluna Samay que deixei de detalhar acima. Para eles, criei a seções abaixo, "Volume +" e "Volume -". Mas creio que consegui transmitir um pouco do que foi meu 2012 musical para vocês. Espero ter adicionado pelo menos uma faixa nova ao player de música de vocês!

VOLUME + (mais alguns artistas que conheci ou passei a ouvir mais em 2012): Joy Division, The Smiths, Los Aldeanos, The Black Keys, Mumford & Sons, Pink Floyd.
VOLUME - (alguns que deixaram meu player em 2012, ou por pura negligência ou por falta de afinidade): Ashlee Simpson, Carrie Underwood, Harel Skaat, Suicide Silence, Paramore.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O vizinho da camisa vermelha


Quem é aquele? Vivemos lado a lado e nada sabemos sobre a vida um do outro. Duas vidas no mesmo lugar. Tão distantes, tão distintas. Ou tão iguais; nunca se sabe. E nunca se saberá, a não ser que um de nós dois saia da bolha que nos abriga e decida sussurrar um tímido “oi”.
            O vizinho que não existe, coexiste. Coexiste em uma camisa vermelha e uma porta de madeira escura. Apenas mais uma das sete bilhões de pessoas do mundo que não conheço, mas que vejo todo dia e mora a dez metros de distância de mim. Um conhecido desconhecido.
            Entre um cigarro e um devaneio, trocamos olhares da sacada de nossos apartamentos. Ele na dele, eu na minha. Ele com seu Marlboro, eu com meus pensamentos. Ele amassando as cinzas, eu contando as estrelas. Um olhar. Desvio. Volto a contar estrelas. Sinto seu olhar em mim. Lembro da camisa vermelha, da porta, da madeira escura.
            E esqueço. Quem é ele, afinal? Ninguém. Nunca esteve nem nunca estará em minha vida. Nada mais do que uma troca de olhares diária, que já virou quase que rotina. Nada mais do que o vizinho da camisa vermelha. 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O Ativista

Perguntavam por que ele passava tanto tempo na rua. Mais especificamente, no centro da cidade, panfletando em algum canto ou divulgando alguma causa popular. Era tachado de líder de guerrilha, maoísta, revolucionário, “ativistinha vagabundo”. Mas sinceramente, ele não ligava. Gostava, até. Vangloriava-se da fama de esquerdista excluído do sistema, apesar de não simpatizar com Marx ou Bakunin e nem mesmo acreditar em uma mudança de sistema.
Em mãos, apenas o velho megafone companheiro de marchas e a mochila surrada nas costas. Dessa, ele não largava nunca. Mesmo que fosse para carregar apenas uma simples agenda de capa preta, outra fiel escudeira. E essa era apenas uma das inúmeras manias que ele tinha, capazes de irritar qualquer um eu convivesse com ele.
            Sua voz era sua única arma. Nada de metralhadoras e fuzis nas mãos de guerrilheiros loucos e inconsequentes, como seria possível imaginar. Na verdade, era exatamente isso que as pessoas pensavam quando o ouviam falar da revolução e da luta popular. Mal sabiam elas que ele fazia revolução com um megafone e uma oratória fora do comum.
            Seu grande diferencial era acreditar no movimento. “As coisas estão mudando, as pessoas estão acordando”, jurava para mim, em uma quase súplica. Contentava-se com a presença de cinco, seis pessoas em debates promovidos por ele para discutir temas como a corrupção ou o novo Código Florestal. Eu sempre presente, como sua fiel escudeira. Afinal, todo Dom Quixote precisa de seu Sancho Pança.
            Tinha uma folha especial na pasta de indulgentes no escritório da Polícia Federal, resultado de algumas madrugadas em claro colando cartazes pela cidade, além de alguns bate-papos com políticos não tão moderados assim. Costumava dizer que se vivesse em tempos de ditadura, com certeza já estaria morto ou preso. Em tempos modernos, no entanto, conseguia manter uma relação estável com os policiais. Um cartaz ali, outro megafone depois das dez ali... nada que fosse manchar sua foto 3x4 de sangue.
            E quando ele pretendia arranjar um trabalho? Quando ingressaria em uma faculdade? Quando deixaria os movimentos sociais para buscar um projeto de vida mais sólido? “Enquanto respirar, vou lutar”, repetia. “Enquanto houver injustiça, não sairei das ruas”. E era assim, defendendo a liberdade dos fracos e oprimidos, que ele defendia sua própria liberdade. Era no coletivo revolucionário que ele encontrava seu eu. Ele era o movimento, e o movimento não existiria sem ele.

NOTA: O personagem deste texto é, na verdade, composto por múltiplos outros personagens. Muitas pessoas no Movimento são verdadeiras inspirações para mim, e fico feliz de conhecê-las e fazer parte do cotidiano delas. As frases, as situações e até mesmo os chavões da narrativa são reais, e estão contidas no interior de cada um dos ativistas que eu conheci na minha jornada pelas ruas com iniciativas populares. Cada uma delas é o Movimento, e sem a ajuda de cada um dos indivíduos maravilhosos que inspiraram essa história, ele não existiria. 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Corpo


          Durkheim estava certo, no final das contas. O suicídio é mesmo um fato social e exterior ao indivíduo em sua essência. Conviver em sociedade suga todas as nossas energias. São tantas regras a seguir, padrões para considerar, pessoas para agradar... E tentamos tanto agradá-las que esquecemo-nos de agradar ao nosso próprio corpo.
          Corpo? Meu corpo? Minha propriedade, minha casa, meu refúgio? Ou seria ele apenas mero instrumento que aqueles lá de cima, os privilegiados, utilizam para me controlar, me marcar, me docilizar? Já não sei. Talvez não seja nenhum dos dois, talvez seja ambos ao mesmo tempo. Talvez seja branco, talvez seja pardo. Ou negro. Talvez seja alto, magro, belo, esguio, ou talvez não. Talvez seja invisível, intocável, fragilizado e perdido. Somente mais uma marionete no meio da multidão.
          Já não sei mais sobre meu próprio corpo. Não o possuo. Meu corpo não é meu, mas deles. O único corpo que conheço é aquele, do qual disseram que faço parte: uma tal de sociedade. Dizem que sou importante órgão neste grande complexo organizacional a qual deram o nome de Sociedade, e seu bem deve ser colocado como minha prioridade. Eu, indivíduo? Não existo. Agora vivo para Sociedade.
          Sociedade me apunhala pelas costas, a danada. Durante toda a minha insignificante existência. Quando meu corpo ainda é pequeno, frágil, manda-me para um presídio denominado Escola. Lá, recebo um uniforme, que me deixa exatamente igual às outras crianças. E não só a roupa é uniformizada! Para meu espanto, sentamos todos em carteiras desconfortáveis, sob o mais rigoroso regime quase ditatorial de um sargento, e somos proibidos de comunicarmo-nos com o corpo ao lado. Dizem que um dia vou ser alguém na vida. Mas por enquanto, não tenho querer. Sou apenas uma mera glândula anexa no grande organismo do qual faço parte. Passo na Escola, conforme Sociedade me instrui, metade do meu dia. E metade também da minha vida.
          Depois de lá sair, Sociedade promete ser benéfica a mim. Ouvi por aí que, depois de meu PhD em Economia pela Universidade de Harvard, vão me conceder um lugar ao Sol. Passarei de mero órgão sem valor algum e virarei o cérebro de nosso corpo. Serei o cérebro, talvez! E quando já me imaginava trocando sinapses com outro neurônio, Sociedade submete-me a longas jornadas de trabalho, oferece-me um péssimo local laboral, um novo sargento, e novamente não posso comunicar-me com o colega ao lado. Não entendo. Dizem que devo me preocupar com o grande organismo, mas não me permitem trocar uma ideia, tomar uma cerveja, aperitivar uma batata frita com este outro pequeno corpo ao meu lado.
          Na verdade, não me permitem fazer isso nem mesmo sozinho. O trabalho que Sociedade me concedeu tira-me todas as forças e o ânimo para realizar atividades paralelas. Quando chego em casa, às onze e quarenta e sete da noite, todos os dias, seis dias por semana, tudo que quero fazer é descansar as engrenagens de meu próprio... Como é o nome daquilo, mesmo? Corpo.
          Corpo. Organismo. Vivo. Fadigado. Oprimido. Docilizado. Animalizado. Latente.
          Protesto! Já chega.
          Corpo. Mutilado. Estirado no chão de madeira podre e barata. Envolto por um sangue fresco e rubro. Sangra. Um. Dois. Três. Sociedade? Não responde. E a vida se foi.
          O corpo sangra. A Sociedade não.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Blue Moon


Blue moon,
Velvet skies
Come to me with the rain
Wash the pain away
Take me for a journey through the stars

Blue moon,
Velvet eyes
Crying for so long
Tired of dreaming, waiting, hoping
Looking up to the skies
Praying for a miracle

Blue moon,
Velvet night
Take my soul, take it all
And stab me if you wish
Don’t run away
Stay with me tonight

Blue moon,
Velvet sound
Your voice is just another drug
Your heart is torn, your smile is gone
I don’t deserve you after all.

Blue moon,
Velvet dreams
I’ll just stand here in the rain
Underneath your grace
Give me joy, give me faith
Give me all your light.



sexta-feira, 27 de julho de 2012

Memórias

- Alô? – disse uma voz do outro lado da linha, em um misto de desespero e euforia.
- O-olá... –gaguejei hesitante.
Começava a passar pela minha cabeça que a ideia de ter resgatado um simples caderninho azul esquecido em um banco de praça era loucura. Responder a um anúncio de jornal que praticamente implorava por ele, então, parecia ainda mais absurdo.
- Quem fala? –respondeu a voz feminina outra vez, após algum tempo, interrompendo meus devaneios solitários.
- Escute... –comecei, ignorando completamente a pergunta- Não sei exatamente o por quê, mas possuo algo que lhe pertence.
- Meu caderninho? –ela arfou, mal permitindo que eu terminasse a frase.
- Exatamente! Se quiser resgatá-lo, venha até minha casa.
Dessa forma, informei meu endereço e marcamos um encontro. Não demorou muito para que uma garota de cabelos desgrenhados e aparência desleixada surgisse em minha porta. Não era alta nem baixa, gorda nem magra, alta nem magra, bonita nem feia. Mas havia algo peculiar em seus olhos aflitos que dançavam sem cessar pelo meu rosto e pela sala. Na verdade, a peculiaridade era-me familiar. Ela era exatamente igual a mim.

Sem mais delongas, entreguei-lhe o caderno amarrotado e rabiscado, o qual ela abraçou como se fosse um filho. Confesso que, antes disso, andei folheando as páginas da pequena brochura, porém em suas folhas surradas não havia nada mais do que rabiscos sem significado algum. Ora formavam figuras geométricas tortas, ora estavam apenas soltos nas folhas, e de inteligível possuíam apenas o nome de variadas cidades escritas em colorido.

Minha curiosidade falou mais alto e perguntei à garota o significado dos rabiscos.
- Não os chame de rabiscos! São memórias. –notando o grande ponto de interrogação em minhas feições, ela continuou- Cada rabisco desses contém memórias fragmentadas das cidades pelas quais passo. Viajo freneticamente há dois anos, buscando um lugar para mim neste mundo. Não me permito mais de uma semana em cada local, e por isso, necessitava de minhas memórias de volta com urgência. Preciso partir!
- Mas então por que não utiliza palavras? Ou gravuras, fotografias... –sugeri.
- Palavras podem ser lidas por qualquer um. E deixariam de ser minhas! Imagine só, que desastre! Se utilizasse palavras, você teria lido mais textos e roubado-os de mim. Que desastre! O mesmo vale para desenhos.
Um mês se passou desde o ocorrido, e a garota já deve ter visitado mais quatro cidades. Hoje, entendo o motivo daquele anúncio desesperado em um jornal, buscado urgentemente um caderno qualquer. Buscando por lembranças. Memórias. Pessoais, únicas, exclusivas. Diferentes como a personalidade excêntrica daquela garota –e a minha própria.

domingo, 8 de julho de 2012

Devaneios sobre felicidade e afins.


A felicidade é efêmera.
Simples assim. Felicidade é o mais efêmero de todos os sentimentos humanos (se é que chega a ser um sentimento, e não só um estado de espírito...). Chega, sorrateira, tomando conta de toda a nossa alma deixando-nos eufóricos, quase inconscientes. Abraça-nos por trás, tampa nossos olhos e pede-nos que adivinhemos quem é ela. A misteriosa, a novata, a visitante! E não sabemos ao certo de onde vem essa nova onda de euforia. Nem nos importamos em saber: queremos mais é curti-la ao máximo, viver cada momento com ela, como uma amante. Faz-nos pensar que a teremos para sempre em nossos braços, deixando o mundo a nossa volta mais atraente, as pessoas mais interessantes, nossos passos mais leves.
E depois é arrancada de nós como um recém-nascido indefeso. E não faz questão de voltar tão cedo. Permanece lá, em uma prateleira qualquer, trancada a sete chaves, desmaiada ou adormecida. Quiçá até mesmo morta, enterrada, em estado de putrefação. A nós, resta aquela esperança de que, um dia, a felicidade decida deixar sua morada intocável e venha agraciar-nos e elevar nossos espíritos mais uma vez mais.
Mas não volta. Ou, quando volta, volta diferente. Tão diferente que mal a reconhecemos. E quando finalmente deixamos a melancolia de outrora para viver de novo a felicidade, já estamos atrasados e não há mais tempo: ela já está partindo. Seu trem já chegou. Chegamos a tempo de vê-la acenar para nós, com seu sorriso encantador e seu semblante resplandecendo calmaria, e adentrar o trem.
Foi-se.
Volta. Por favor, volta.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Sem título


O sangue borbulhando em minhas veias
O ar que relutava ao entrar em meus pulmões
As mãos de meus entes queridos nas minhas
Trêmulas, sem força
Frias, pálidas

A dor
A dor sem fim
Com a qual lutava arduamente
A dor que agora me possuía por inteiro
Que tomava para si minha existência

As lágrimas que corriam pelo meu rosto
Em uma tentativa desesperada
De levar embora com elas
Toda a angústia
Toda a tortura

A vida por um fio
Um piscar de olhos
Um batimento cardíaco
E tudo se foi.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Noites solitárias em Istambul


                Em meio à beleza e ao espanto, perdi-me nas ruas de Istambul. Aquela Istambul, que elevou meu espírito e libertou minha alma. Senti a chuva fina levemente umedecer meu corpo vazio e levar-me para qualquer lugar. O refresco momentâneo e passageiro da água confundia-se com o calor que irradiava de minha pele devido aos dias quentes do Mediterrâneo. Distraidamente lia um letreiro ou outro, ouvia uma música qualquer. Aquela cidade, que outrora me fascinava e cativava em seus mais minuciosos detalhes, agora assumia o caráter de qualquer outra metrópole cinzenta e banal. Eu já não estava mais ali –na verdade, nem sabia onde estava.
                Repentinas eram todas as mudanças de Istambul. Na verdade, não sei se foi Istambul que mudou, ou fui eu quem mudou Istambul. A cada piscar de olhos, a cada soar das cordas de um músico de rua, a cada gota d’água, uma mudança. A cada sorriso, a cada olhar, a cada palavra indecifrável, um momento. Efêmero.
                Não sei o que fiz em seguida, mas isso pouco importa. O vento frio do inverno açoitava-me os braços e carregava-me inconsciente para qualquer sarjeta mais próxima, onde pudesse descansar meu corpo débil. O verão tinha se dissolvido em meio à atmosfera que a cidade assumira repentinamente.
                Porém minha alma lá permanece, esquecida em alguma esquina de Istambul, entre os jardins floridos da primavera e os galhos secos do outono. Paradoxal, simples assim. Paradoxal como corpo e alma. Paradoxal como Istambul.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Descrição. Só que não.


Não sei por onde começar... Talvez eu devesse me apresentar e depois apresentar o blog. Mas é um tanto quanto complicado e contraditório autodescrever-me enquanto eu nem sei quem sou. Difícil descrever o intuito deste blog se, na verdade, ele não possui um. Bem. Vamos tentar começar pelo segundo tópico.
Fiz este blog para botar para fora tudo o que eu sinto. Já faz algum tempo (mais precisamente, quatro anos) que todas as minhas angústias e crises existenciais são jogadas pra fora através da escrita, seja ela em prosa ou poesia. Mas nunca senti vontade de compartilhar o que acabava resultando desse processo. Pois bem, as coisas mudaram: muita gente pedia para ler, eu mostrava. E meus amigos próximos acabaram conhecndo grande parte do meu acervo sentimental. Dessa forma, já que a privacidade foi parcialmente perdida, decidi perdê-la de vez e compartilhar com o mundo todo através deste blog.
Como já disse anteriormente, o principal objetivo da minha escrita não é utilizar palavraas bonitas, recursos linguísticos ou métricas inovadoras. E muito menos agradar alguém, que isso fique bem claro. Meu intuito é jogar para fora minha angústia, felicidade, melancolia, saudade, ou qualquer outra coisa que eu venha a sentir. Se agradar, muito que bem. Se não agradar, muito que bem também.
Se sentir necessidade, vou compartilhar aqui também frases, músicas ou imagens relevantes que me causaram algum tipo de impacto. Então não se assustem ao se deparar com alguma citação de Nietzsche por aqui: não estou plagiando ninguém. E não me comprometerei a escrever apenas em português. Tenho coisas escritas também em inglês, espanhol e até mesmo turco.
Certo, acho que cumpri um dos tópicos. Vamos para o que deveria ter sido o primeiro, mas não foi. O que deveria ser mais fácil, mas não é. Talvez seja melhor deixar isso para depois, ou talvez o próprio leitor venha a descobrir quem eu sou através dos meus textos.
Deixo aqui meu Twitter e meu Tumblr, caso queriam entrar em contato ou tentar desmascarar um pouco mais da minha vã existência. Enfim.
Adeus por ora.